domingo, 31 de maio de 2009


Alguns links interessantes com mais dados para entender esse velho movimento que opõe:

- quem acredita ser a verdade intangível e quem acredita poder atingi-la;

- quem aplica a retórica e quem aplica a dialética + lógica;

- quem fundamenta suas posições pelo critério da atualidade e quem as fundamenta pelo da veracidade;

- revolucionários e conservadores;

- sofistas e filósofos,

- esquerda e direita;

- filosofia moderna e Igreja,

- Wittgeinstein e Husserl,

- gnosticismo e cristianismo, ... :



É interessante perceber que o embate entre direita e esquerda é apenas uma parte do verdadeiro embate milenar, uma manifestação histórica dentre diversas outras desse embate.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

ARGUMENTO HISTÓRICO DO CONSERVADORISMO


Não bastassem os argumentos levantados nos artigos anteriores sobre o conservadorismo, que ao contemplarem a importância da conservação do conhecimento, contemplam necessariamente a natureza histórica dessa conservação, acho interessante comentar especificamente a importância dessa natureza histórica da conservação do conhecimento para a evolução do homem.

O que é o conhecimento senão a projeção (passiva e ativa) do que nos chega por um dos cinco sentidos em um contexto histórico de formas e conteúdos que se encontra em nossa mente? Fisiologicamente vemos o mesmo que um recém nascido, mas intelectualmente vemos muito mais. A conservação do conteúdo é essencial para a intelecção. A eliminação do conteúdo conservado transforma o contexto mental antes apto a articular com o novo e descartar os monstros produzidos pelo sono da razão em um contexto mental inerte, que aceita tudo e qualquer coisa. Em psicanálise chamaríamos isso de lavagem cerebral. Em sociologia chamamos isso de revolução. E elas não são coisas distantes umas das outras. Estou certo de não existe revolução sem lavagem cerebral. Como surgiriam Hitler, Stalin, Mao, Khomeini e cia. limitada sem pessoas majoritariamente influenciadas por cérebros lavados?

O livro 1984 de George Orwell* retrata muito bem isso: como é essencial matar a história para se atingir, ou no caso do livro, manter um Estado Revolucionário [alguns – que não leram o livro – tentarão argumentar que o Estado era Totalitário, ao que responderei: (i) não existe revolução que não seja totalitária – lanço o desafio por um único exemplo de revolução não totalitária em toda a história humana – e (ii) o livro é expresso ao dizer que o Estado era Revolucionário**.]. No livro a história é apagada de duas formas diferentes:

História sendo apagada do Conhecimento Geral

“What happened in the unseen labyrinth to which the pneumatic tubes led, he [o personagem principal, que trabalhava no Ministério da “Verdade” alterando notícias e informações publicadas] did not know in detail, but he did know in general terms. As soon as all the corrections which happened to be necessary in any particular number of the Times [revista Times] had been assembled and collated, that number would be reprinted, the original copy destroyed, and the corrected copy placed on the files in its stead. This process of continuous alteration was applied not only to newspapers, but to books, periodicals, pamphlets, posters, leaflets, films, sound-tracks, cartoons, photographs – to every kind of literature or documentation which might conceivably hold any political or ideological significance. Day by day and almost minute by minute the past was brought up to date.” p. 42 [Esse texto me faz lembrar das fogueiras de livros de Hitler e do Livro Vermelho de Mao.]

História sendo apagada do Conhecimento Individual

“‘You believe that you had seen unmistakable documentary evidence proving that their confessions were false. There was a certain photograph about which you had a hallucination. You believed that you had actually held it in your hands. It was a photograph something like this’. (…) ‘It exists!’ he cried. ‘No’, said O’Brien. He stepped across the room. There was a memory hole in the opposite wall [tubo onde os objetos lançados são sugados e destruídos para sempre]. O’Brien lifted the grating. Unseen, the frail slip of paper was whirling away on the current of warm air; it was vanishing in a flash of flame. O’Brien turned away from the wall. (…) ‘It does not exist. It never existed.’ ‘But it did exist! It does exist! It exists in memory. I remember it. You remember it.’ ‘I do not remember it,’ said O’Brien. (…) ‘There is a Party slogan dealing with the control of the past,’ he said. ‘Repeat it, if you please.’ ‘Who controls the past controls the future: who controls the present controls the past.’ Repeated Winston. (…) ‘Is it your opinion, Winston, that the past has real existence?’ Again the feeling of helplessness descended upon Winston. His eyes flitted towards the dial [botão que estava sendo apertado pelo O’Brian para dar choques no Winston sempre que o Winston dava uma resposta em desconformidade com o que os revolucionários queriam]. He not only did not know whether ‘yes’ or ‘no’ was the answer that would save him from pain; he did not even know which answer he believed to be the true one. (…) O’Brien held up his left hand, its back towards Winston, with the thumb hidden and the four fingers extended. ‘How many fingers am I holding up, Winston?’ ‘Four’ ‘And if the Party says that it is not four but five – then how many?’ ‘Four’ The word ended in a gasp of pain. The needle of the dial had shot up to fifty-five. (…) ‘How many fingers, Winston?’ ‘Four’ The needle went up to sixty. ‘How many fingers, Winston?’ ‘Four! Four! What else can I say? Four!’ The needle must have risen again, but he did not look at it. (…) ‘How many fingers, Winston?’ ‘Four! Stop it, stop it! How can you go on? Four! Four!’ ‘How many fingers, Winston?’ ‘Five! Five! Five!’ ‘No, Winston, that is no use. You are lying. You still think there are four. How many fingers, please?’ ‘Four! Five! Four! Anything you like. Only stop it, stop the pain!’ Abruptly he was sitting up with O’Brien’s arm round his shoulders. He had perhaps lost consciousness for a few seconds. (…) ‘You are a slow learner, Winston’ said O’Brien gently. ‘How can I help it?’ he blubbered. ‘How can I help seeing what is in front of my eyes? Two and two are four.’ ‘Sometimes, Winston. Sometimes they are five. Sometimes they are three. Sometimes they are all of them at once. You must try harder. It is not easy to become sane.’ He laid Winston down on the bed. The grip on his limbs tightened again, but the pain had ebbed away and the trembling had stopped, (…) ‘Again’, said O’Brien. The pain flowed into Winston’s body. The needle must be at seventy, seventy-five. He had shut his eyes this time. He knew that the fingers were still there, and still four. All that mattered was somehow to stay alive until the spasm was over. He had ceased to notice whether he was crying out or not. The pain lessened again. He opened his eyes. (…) ‘How many fingers, Winston?’ ‘Four. I suppose there are four. I would see five if I could. I am trying to see five.’ ‘Which do you wish: to persuade me that you see five, or really to see five.’ ‘Really to see them.’ ‘Again,’ said O’Brien. Perhaps the needle was at eighty – ninety. (…) The pain died down again. When he opened his eyes it was to find that he was still seeing the same thing. Innumerable fingers, like moving trees, were still streaming past in either direction, crossing and recrossing. He shut his eyes again. ‘How many fingers am I holding up, Winston?’ ‘I don’t know. I don’t know. You will kill me if you do that again. Four, five, six – in all honesty I don’t know.’ ‘Better,’ said O’Brien. (…) ‘Power is in tearing human minds to pieces and putting them together again in new shapes of you own choosing. Do you begin to see, then, what kind of world we are creating?’” ps. 258-279 [Gramsci e Pavlov, ambos “cientistas” que serviram à revolução, poderiam ajuizar uma ação contra George Orwell por plagiar tão bem suas idéias no texto acima. "Como poderia viver o homem se cada experiência fosse sempre uma nova experiência?"*** Só poderia viver se alguém estivesse sempre a seu lado "guiando-o" quanto ao que fazer em seguida.]

Até a língua, instrumento capaz de articular reflexões e expulsar os monstros produzidos pelo sono da razão, era transformada numa nova língua (Newspeak), com novos conteúdos que não permitiriam pensamentos “ruins”, leia-se: contrários à revolução (algo parecido com o que está acontecendo atualmente no movimento do Politicamente Correto), retratando muito bem as relações inversamente proporcionais entre conservação (sob o aspecto histórico) e dominação.

Não conservar o conhecimento é se tornar vulnerável a ver um monstro-produzido-pelo-sono-da-razão qualquer dominar sua mente, transformando-o em um cérebro lavado e vazio e em uma peça de um movimento revolucionário qualquer criado e dirigido por outros zumbis. Para quem sente: “Always the eyes watching you and the voice enveloping you. Asleep or awake, working or eating, indoors or out of doors, in the bath or in bed – no escape.”, vale lembrar que “Nothing was your own except the few cubic centimeters inside your skull” (p. 29) e que temos esse importante ponto de partida.


*Dados da versão de onde extraí os trechos acima: ORWELL, George Nineteen Eighty-Four, England, Penguin Books, 1987

**“The thing you invariably came back to was the impossibility of knowing what life before the Revolution had really been like.” p. 75 (esse é apenas um dos diversos parágrafos do livro que tratam o Estado Oceania como revolucionário; um parágrafo que expressa bem a morte da história no processo revolucionário).
.
***"Como poderia viver o homem se cada experiência fosse sempre uma nova experiência? Como poderia ele manter a sua existência se tivesse que experimentar cada fato como algo de novo? Bergson exemplificava imaginando um homem que houvesse perdido totalmente a memória, e que não tivesse qualquer memória. Quando ele praticava um ato, esquecia-o totalmente logo após à prática, e o ato seguinte ser-lhe-ia inteiramente novo, sem qualquer ligação com os atos anteriores. Esse homem não poderia viver, se entregue a si mesmo, pois não lhe guiaria a memória nenhum de seus atos. Poder-se-ia queimar no fogo tantas vezes quantas dele se aproximasse; morreria de fome, pois não guardaria a memória do alimento para satisfazer aquela necessidade imperiosa." DOS SANTOS, Mario F. in Filosofia e cosmovisão, 6ª edição, São Paulo, Editora Logos, 1961, pg. 43

sábado, 9 de maio de 2009

FUNDAMENTO LÓGICO DO CONSERVADORISMO


“Para que surja uma ciência é necessário: primeiro, que alguns indivíduos tenham algum contato com algum tipo de objeto na sua experiência real; segundo, não basta que eles tenham tido esses contatos, é preciso que esses objetos se tornem como imagens ou sinais relativamente estabilizados na consciência, a ponto de eles poderem falar dessas coisas. Isso tudo antes de aparecer a ciência. Por exemplo, quando aparece a geometria, antes de aparecer o primeiro geômetra é preciso que alguém tenha percebido que existem quadrados, triângulos, etc. Sem saber nada de geometria. Mas ele precisa poder identificar essas formas de maneira estabilizada e poder falar delas.

E você acha que o homem nasce sabendo isso? Não, isso dá um trabalho miserável ! Ou seja, um sujeito, uma geração percebeu; percebeu mas não criou os termos para aquilo. Então aquilo se perde, e a geração seguinte tem que perceber de novo. Aos poucos, se diz: foi estabilizado na linguagem, temos o nome para essa coisa, então podemos começar a falar dela. É muito tempo depois de se poder falar dela que surge a idéia de estuda-la cientificamente. Mas tudo isso depende de registros que permitam a cada geração o retorno às mesmas experiências intelectivas que permitiram o surgimento da primeira investigação. Se você não é capaz de ter as mesmas intuições que Euclides teve quando estava compondo “Os Elementos de geometria”, você não poderia entender nada da geometria de Euclides. É que ela está montada numa ordem lógica que lhe permite estudar cada teorema para você mesmo intuir as relações que ele está querendo lhe mostrar.”
(gn)

E como se dá essa ordem lógica? O próprio professor Olavo, de quem retirei as palavras acima (1), lança a idéia:

“Dizemos que uma ciência progride. Por que? Porque as descobertas da geração anterior são premissas para as descobertas seguintes. Se você descobre um novo fato, esse novo fato se torna a premissa menor de um silogismo cuja premissa maior são os conhecimentos adquiridos anteriormente. É assim que a coisa vai andando, pois se você descobre um fato novo, mas não tem premissas com as quais articula-lo, você não tira conclusão nenhuma, daí a coisa não foi nem para frente nem para trás. As ciências só existem porque a progressão temporal vai sendo gradativamente montada sob a forma de uma progressão lógica.

Se o que vem antes é premissa do que vem depois, existe não apenas a relação temporal, mas uma articulação lógica. Claro que essa articulação lógica não se produz por si, que é cada novo pesquisador que, tendo descoberto alguma coisa nova, tem que articular aquilo logicamente com a anterior. Se ele não conseguir articular, das duas uma: ou o fato que ele descobriu é falso e aquilo não acontece, ou então a teoria anterior estava errada, daí ele tem que montar de outro jeito.”
(gn)

Que o processo acima é uma verdade para o conhecimento científico não questionamos afinal, a própria ciência surgiu dessa constatação filosófica, que consistiu na aplicação do método com a consciência de que se estava aplicando-o. A questão que devemos nos fazer é se podemos aplicar essa mesma leitura para o conhecimento humano não exato como método para desenvolver o conhecimento em outras atividades humanas, em especial, nas atividades humanas.

Para isso, proponho ao leitor que faça a releitura do texto acima, no qual encontrará trechos que negritei na conclusão de que referidos trechos poderiam sim serem perfeitamente aplicáveis a qualquer tipo de conhecimento humano. Mais do que concluir que podemos utilizar esse processo, acredito devermos nos pautar nele para chegarmos a melhores conclusões. E lanço como fundamento desse argumento dois exemplos que julgo simbólicos:

EXEMPLO 1

Sócrates, quando nos mostrou que a beleza não era uma substância etérea mas algo que poderia recair sobre diversas substâncias diferentes, acabou nos ensinando que é possível usar a progressão lógica do conhecimento em conhecimentos que não são propriamente pertencentes aos ramos da matemática e da física (como a relação entre atributo e substância). No Capítulo VIII do Livro III do livro Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates(2), Xenofonte lança o seguinte diálogo:

“Outra vez, inquirindo-lhe [a Sócrates] Aristipo se conhecia alguma coisa bela:

___ Sim, conheço muitas coisas belas – respondeu.
___ Serão todas semelhantes?
___ Tanto quanto possível, há as que diferem essencialmente.
___ Como pode ser belo o que do belo difere?
___ Por Júpiter! Como de um bom lutador difere um bom corredor, como da beleza de um venábulo, feito para voar com força e velocidade, difere a beleza de um escudo, feito para a defensiva.”


Sócrates não estava anunciando uma lei física ou uma regra matemática, mas “apenas” a a idéia de que as substâncias poderiam ter atributos e de que esses atributos não se confundiam com elas, embora só pudessem existir nelas, como viria dizer Aristóteles depois de descer o mundo das idéias de Platão para o nível de equivalência ao mundo das substâncias que referidas idéias pretendiam descrever.

Esse ensinamento foi uma das bases de uma proposta de análise dos fenômenos pela clave da Singularidade/Universalidade que só foi possível partindo do acúmulo de outros conhecimentos anteriores (o de Sócrates, neste caso), tendo sido ele: (i) muito proveitoso em seguida, para Platão e Aristóteles, tendo gerado mais conhecimento e (ii) pouco proveitoso nos Cínicos, Céticos, Epicuristas e Estóicos.

Os frutos de Aristóteles foram possíveis a partir dos frutos de Platão e assim sucessivamente. O filósofo Aristóteles, se tivesse nascido na Inglaterra daquela época, não teria existido. E muitos gregos viveram na Inglaterra daquela época em plena Grécia pelo simples fato de terem decidido pela ruptura drástica com o legado até então acumulado em lugar de sua conservação. E foram morar em barris, consolidando um importante exemplo do impacto da conservação de conhecimento para a evolução ou, no caso, do impacto de sua não conservação.

EXEMPLO 2

O Irã, país que podia se gabar até o século passado de não dever nada a Europa em termos de filosofia, na Revolução Iraniana (1979), jogou tudo isso fora para ficar basicamente com uma parte atrasada de sua religião, e hoje conta, por exemplo, com um presidente que quando fora prefeito de Teerã, dois anos antes, obrigara todos os homens da administração pública a usarem barba e camisa de manga comprida (http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2005/06/050625_perfilahmadcg.shtml) e que hoje quer “riscar Israel do mapa”, seja lá o que ele, que corre tanto com seu programa nuclear, quer dizer com isso. E isso não é novidade nessa recente história de 30 anos da República Islâmica do Irã (quem não se lembra do ataque contra judeus na Argentina em 94 coordenado pelo presidente Iraniano à época (http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/fintimes/2007/05/15/ult579u2152.jhtm)?

É notório que, ao invés de avançar, o povo iraniano recuou séculos no tempo e hoje, aqui do século XXI, sequer conseguimos entender os discursos que vêm de lá. O movimento revolucionário iraniano, liderado parcialmente da França pelo aiatolá Khomeini (http://en.wikipedia.org/wiki/Neauphle-le-Ch%C3%A2teau), país de onde partiu para o poder no Irã (http://en.wikipedia.org/wiki/File:Imam_Khomeini_in_Mehrabad.jpg), influenciado por livros como Lês damnés de la Terre (http://en.wikipedia.org/wiki/The_Wretched_of_the_Earth), manual revolucionário comunista, traduzido para o persa (farsi) pelo Ali Shariati (http://en.wikipedia.org/wiki/The_Wretched_of_the_Earth), um dos principais ideólogos (se não o maior) da Revolução Iraniana (http://en.wikipedia.org/wiki/Ali_Shariati) que estudou islamismo, pasmem, com dois scholars franceses Luis Massignon (http://en.wikipedia.org/wiki/Louis_Massignon) e Jacques Berque (http://en.wikipedia.org/wiki/Jacques_Berque), jogou na lata de lixo uma imensidão de conhecimentos da cultura iraniana que deveriam ser conservados para que outras gerações pudessem avançar e que agora estão segregados até que a história prove empiricamente que a “não conservação” foi um ENORME erro (o que, no caso do Irã, deverá acontecer nas próximas duas gerações – quanto mais profunda a revolução, mais rápida ela acaba) e o processo evolutivo seja retomado.

E como isso poderia ser diferente? Da mesma forma que o foi para os Escolásticos, por exemplo, que mantiveram pela Igreja a religião judaica e o novo testamento juntos à filosofia grega e ao direito romano (3), o que permitiu o desenvolvimento do conhecimento adquirido até então, agregando, inclusive, grandes filósofos do Islã – São Tomás de Aquino, o maior escolástico, estudou profundamente Averrois (http://pt.wikipedia.org/wiki/Averr%C3%B3is) e Avicena (http://pt.wikipedia.org/wiki/Avicena), (este) por quem nutria grande admiração.

E, sendo o processo de acumulação de conhecimento um processo, como proposto por Olavo na transcrição que fiz no início do texto, por meio do qual o conhecimento novo se relaciona com o conhecimento conservado para, dialeticamente, formar uma nova síntese (evolução), podemos concluir que a conservação do conhecimento é logicamente necessária para a evolução dele, do que decorre, logicamente, ser o CONSERVADORISMO uma opção pela evolução e a REVOLUÇÃO uma opção pelo atraso, conclusão essa que, pela quantidade de exemplos históricos disponíveis, dispensaria o presente artigo.

(1) CARVALHO, Olavo de in Período Helenístico - coleção história essencial da filosofia, Aula 6, 1a edição, São Paulo, É Realizações Editora, 2006, p. 20 e 21
(2) Coleção Os Pensadores – Sócrates, 1996, Nova Cultural, p. 143
(3) RUSSELL, Bertrand in History of western philosophy, London, 2000, p. 19

segunda-feira, 4 de maio de 2009

FUNDAMENTO FILOSÓFICO DO CONSERVADORISMO


Peguei-me lendo hoje um INTERESSANTÍSSIMO trecho do livro A Sabedoria das Leis Eternas, no qual Mário Ferreira dos Santos, ao tratar da EVOLUÇÃO, descreve que:

“PARA QUE HAJA UMA EVOLUÇÃO, É NECESSÁRIO, consequentemente, QUE ALGO PERMANEÇA, que algo seja invariante, QUE ALGO SEJA CONSERVADO, enquanto algo se desenvolve nas atualizações das suas possibilidades, comproporcionadas à sua forma.” (...) “Toda coisa em si mesma é o que é pela forma que tem, pela lei de proporcionalidade intrínseca que a faz ser o que é e não outra coisa; mas este arithmos pode ser tomado em dois aspectos: in indivisibili e in divisibili. In indivisibile é a forma no sentido aristotélico, e in divisibile (divisivelmente, gradativamente) é o seu aspecto dinâmico, a sua dinamicidade.”1 (gn)

Faz todo o sentido que a evolução pressuponha a manutenção de algo que permita a identificação de que um determinado ser, não obstante as alterações sofridas, é o mesmo ser de antes, mudado, porém. Se isso não fosse possível, jamais conseguiríamos identificar mudanças. Tudo o que enxergaríamos seriam sempre coisas novas. E, mesmo que dispondo de uma memória perfeita, jamais conseguiríamos comPARar “seres” a fim de dizer: (1) pela paridade, se tratar do mesmo ser e (2) pelas diferenças, se tratar de um ser mudado. Estaríamos condenados a recriar eternamente a roda (isso se chegássemos lá).

Por isso, em sentido contrário, não faz sentido falarmos em revolução já que a revolução não aceita como ponto de partida o conhecimento (do ser) que adquirimos durante nossa evolução, conhecimento esse que algumas pessoas buscam conservar para dele extrair melhores produtos humanos (seja uma música, uma política administrativa de governo, um teorema matemático, um aplicativo econômico, um software, um novo prato na culinária, e assim sucessivamente).

Esse é, para mim, um belo fundamento do conservadorismo.

1. DOS SANTOS, Mario F. in A Sabedoria das Leis Eternas da Sabedoria, 1ª edição, São Paulo, Editora É Realizações, pgs. 91/92