Um dia a palavra ‘política’ já significou a arte de gerir os interesses e necessidades dos indivíduos que pretendem viver em grupo sem ter que abrir mão daquilo que individualmente são e daquilo que individualmente pretendem ser.
Se a liberdade só existe como valor no indivíduo que vive em grupo, então a política é o instrumento pelo qual os seres humanos buscam conciliar suas vontades na criação das “condições de vida social que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana”.
E articular esse instrumento requer em primeiro lugar desinteresse próprio, porque se a política é um meio para a articulação dos interesses e necessidades de todos os outros, deve ser apenas um fim para o seu articulador, cujos frutos não devem ser senão os frutos que conseguir dispor a todos os outros. Para um bom político, esse constitui um enorme presente.
Mas o que vem a ser um bom político?
Difícil de responder sem poder recorrer com facilidade a um exemplo concreto. Para quem vive nos tempos atuais, definir um bom político é mais um trabalho de construção do que de descrição. E as paredes dessa construção são constituídas da habilidade filosófica de entender empiricamente as necessidades dos indivíduos que constituem o grupo e da capacidade técnica de traduzir a estrutura jurídica das instituições e de seus regulamentos em blocos menores que possam ser reorganizados continuamente a fim de mantê-las sempre unidas às necessidades individuais empiricamente identificadas.
Não existe um interesse coletivo, um bem comum, uma ordem geral. Tudo o que existe é um conjunto de vontades humanas mais ou menos semelhantes que podem ou não ser geridas por indivíduos bem ou mal intencionados. E a única coisa coletiva nisso tudo é o instrumento de gestão, nunca o seu conteúdo.
Por isso, jamais permita que digam qual deve ser o seu interesse, assim como jamais deixe de se interessar pelo interesse do próximo.
“Ao passo que isso ocorria no Brasil, nos Estados Unidos o colonizador e, depois, o pioneiro, o filho e o neto do pioneiro, dando em definitivo as costas à Europa e ao passado, instintos aguçados por uma nova capacidade – a capacidade de adaptar-se, própria daqueles que emigram com o ânimo de permanecer – trabalha e inventa, adapta e aperfeiçoa, cria com o bom existente o bom que nunca existiu. Enquanto os heróis brasileiros, no plano cultural, são os polígrafos, os eruditos, os diletantes, os detentores de cultura sem finalidade e prática imediata, os heróis do descendente do pioneiro são os mecânicos, os engenheiros, os organizadores, os contabilistas, os managers, os inventores e onde a medida de valores do brasileiro é a cultura estática, a do pioneiro é a cultura dinâmica, capaz de accomplishment, palavra por sinal intraduzível para a nossa língua.” Viana Moog - Bandeirantes e Pioneiros, 18a edição, Ed. Civilização Brasileira. pg. 114 . "O brasileiro, (...), de mentalidade profundamente européia, ou reagia, em face do passado, à maneira de Augusto Comte, para quem os vivos devem ser sempre e cada vez mais governados pelos mortos, ou à maneira de Karl Marx, para quem o passado constituía uma tal montanha de opróbrios, ignomínias e injustiças que tudo era preciso arrasar e destruir até que do passado não restasse pedra sobre pedra. (...)O americano, entretanto, em face do passado, não reage nem à maneira dos brasileiros e europeus nutridos em Augusto Comte, nem à maneira dos brasileiros ou russos nutridos em Karl Marx. (...) O resultado, o accomplishment, é a sua craveira de valores. (...) Sob este aspecto, a posição da civilização americana é única no plano da história universal (...)." Viana Moog - Bandeirantes e Pioneiros, 18a edição, Ed. Civilização Brasileira. pg. 122
Embora esse entendimento de Viana Moog explique melhor nosso estágio de desenvolvimento (e até aponte algumas saídas interessantes), não acredito que ele sirva de justificativa desse estágio. Não acredito em determinismo histórico, em especial quando me deparo com casos como Coréia do Sul. Estamos aqui porque até agora não fizemos o suficiente para mudar a situação! E o sistema capitalista está longe de ser o bicho papão feio e peludo que pintam por aí. Ao que tudo (fatos históricos) indica, ele está mais para a solução que para o problema.