quarta-feira, 11 de março de 2009

REVOLUÇÃO OU REAÇÃO?


Já que o assunto surgiu em diálogo registrado neste blog e no blog www.imaginalismo.blogspot.com – excelente, por sinal –, vamos jogar algumas idéias sobre Revolução (revolucionário) e Reação (reacionário).

Revolucionário é aquele que olha para as coisas, usualmente as mais importantes, e diz que elas devem mudar para um novo formato criado por ele, por um guru ou por um grupo de pessoas. Foi assim na Revolução Francesa, foi assim na Bolchevique, na Cultural Chinesa, na Iraniana, na Fascista/Nazista, na Talebã ...

Reacionário é o oposto de revolucionário. É o contrarevolucionário. É aquele que reage (reacionário) e diz que a conservação do conhecimento adquirido (conservadorismo) é ponto de partida para a evolução humana e, portanto, não deve ser simplesmente descartado. Essa conservação é que tem silenciosamente movido a humanidade pelos séculos, permitindo o computador, a internet, o cinema, a “revolução” verde, a sanitária, a automobilística, a empresarial (incluindo as teorias francesas e italianas), a médica, para ficar apenas nas mais novas, sem deixar de mencionar a evolução da imprensa (Gutenberg), industrial, do indivíduo (com Jesus), a filosófica, a científica, ... [não é de se estranhar que nenhuma delas, ou outras que o leitor venha a se lembrar, tenha ocorrido dentro de movimentos revolucionários].

Não me parece razoável que um ser humano, inserido no contexto social do qual extraiu a quase totalidade do seu conhecimento, não dominador dos diversos aspectos estruturais e de conteúdo desse meio (humanamente impossível pela natureza temporal do homem), sequer conhecedor do efetivo desenrolar histórico da sociedade, de repente, como se pudesse tirar-se de dentro do mar [da sociedade] puxando-se pelos próprios cabelos para sobre ela flutuar em busca de uma visão ampla, possa apresentar uma forma supostamente milagrosa de resolver os nossos problemas desconsiderando toda a experiência anterior e tudo o que foi construído pelo conjunto das gerações e mais gerações e mais gerações !? É muito pra cabeça !! Como diria Fernando Pessoa, “Gênio? Neste momento cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu, e a história não marcará, quem sabe?, nem um, nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.”Existem inúmeros exemplos de revolução na história para apreciarmos e para, dessa apreciação, dessa experiência de nossos antepassados, chegarmos a uma conclusão um pouco mais fundamentada sobre o tema. Vejamos a aparentemente inquestionável Revolução Francesa. Pergunto a você: qual foi a utilidade da Revolução Francesa?

- O movimento não durou 10 anos, com direito, inclusive, ao “Reino do Terror” de Robespierre, tendo sido substituído por um Império e suas guerras logo em seguida.

- Os supostos direitos fundamentais do homem, começando pelos básicos “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” e seguindo pelos constantes na Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão não foram frutos da Revolução; já constavam nas páginas de diversos livros ingleses e franceses, bem como já haviam sido adotados nos EUA, pela Declaração de Direitos de Virgínia, treze anos antes e, em parte, na Inglaterra um século antes pela Magna Carta.

- A Bastilha, que foi tão “triunfalmente” tomada, tinha 7 prisioneiros apenas.

- A Tortura havia sido proibida em 1788 e já não havia mais censura

- A tão famigerada servidão contra a qual armas foram levantadas estava espalhada em quase todos os países europeus, mas confinada em apenas algumas partes “recônditas" na França, banida até dos domínios do rei, em 1779.

- A riqueza em toda a França havia crescido imensamente nas décadas imediatamente anteriores à Revolução: “O crescimento da indústria era notável. No Norte e no Centro, havia uma metalurgia moderna (Le Cresot data de 1781); em Lyon havia sedas; em Rouen e em Mulhouse havia algodão; na Lorraine havia o ferro e o sal; havia lanifícios em Castres, Sedan, Abbeville e Elbeuf; em Marselha havia sabão; em Paris havia mobiliário, tanoaria e as indústrias de luxo, etc. Existia uma Bolsa de Valores, vários bancos, e uma Caixa de Desconto com um capital de cem milhões que emitia notas.” “Os grandes portos, como Marselha, Bordéus, Nantes, floresciam como grandes centros cosmopolitas. O comércio interior seguia uma ascensão paralela.”http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa

- Havia trabalho para todos, com falta de mão de obra antes da Revolução.

- O volume de dinheiro circulando na França correspondia à metade do numerário existente na Europa e o volume atingido em 1788 só voltaria a ser atingido novamente em 1848.

O que explica, então, a Revolução?

Nesse momento, não tenho a pretensão de saber. Vários fatos podem ser apresentados como explicação, desde a união do Clero e da Nobreza à Burguesia contra o Rei (Estado) – Revolta dos Notáveis –até o inchamento das cidades por conta de algumas ondas de frio que prejudicaram a produção de alimentos para uma população crescente, gerando um surto migratório, tudo em um momento em que o Estado enfrentava terrível situação financeira. Mas o que me chama a atenção é o tal do deslocamento do poder do Rei para a Lei, que, embora tenha sido marca da substituição do Estado Absolutista pelo Estado de Direito, é, para mim, justamente o acontecimento que expõe os revolucionários, suas intenções e, ousando um pouco, o motivo interno da revolução. Se antes da Revolução as normas vinham do Rei (ao menos institucionalmente), que manifestava sua vontade, agora elas passaram a vir da Lei, que manifestava a vontade de seus legisladores, que eram aqueles eleitos, eleitos dentro de um sistema de sufrágio censitário e, portanto, apenas por aqueles que tinham propriedades – a Aristocracia (que ao contrário do que se pensa, nessa época não estava desenvolvendo os mais diversos tipos de talheres que usamos hoje – que aliás faz parte de importante evolução primitiva e de relevante evolução medieval do homem) e parte da Burguesia – o Clero perdeu propriedades nessa época.

Considerando que você pode tirar suas próprias conclusões, renovo a pergunta: qual foi a utilidade da Revolução Francesa, que deixou a França politicamente instável por anos e anos e mais anos até que ela atingisse a democracia e a participação irrelevantes que tem hoje no mundo (enquanto a Inglaterra, que à época não se comparava a França, hoje é muito mais estável e relevante sem ter eliminado sua monarquia)? A quem essa revolução beneficiou, senão a intelectuais e burocratas !? E quanto às demais revoluções? Compare-as com as evoluções citadas acima, reflita um pouco sobre isso e se posicione com relação a que trilha seguir: a da revolução ou a da reação. Lembre-se de que o movimento revolucionário já está a pleno vapor na América Latina.

[ainda pretendo efetuar alguns ajustes no presente texto – lançarei aqui a data de meu último ajuste]

5 comentários:

D disse...

Ro, veja o que diz o dicionário sobre a palavra revolucionário: que se caracteriza pela inovação, pela originalidade, pela possibilidade de renovar os padrões estabelecidos; ousado.

Agora veja o que o dicionário diz sobre reacionário: contrário, hostil à democracia; antidemocrático, que se opõe às idéias voltadas para a transformação da sociedade,que ou aquele que defende princípios ultraconservadores, contrários à evolução política ou social; reacionarista, reacionista


Estabelecido o que cada palavra quer dizer, podemos perceber que a sua cruzada é, mais uma vez, a velha briga entre direita e esquerda. Creio que você trabalha demasiado com extremos e nada que é muito pode ter o equilíbrio daquilo que é aceitável.

Podemos dizer que Picasso foi um revolucionário, Mozart, Bach e tantos outros. Podemos dizer que Jesus foi um revolucionário (acho mais adequado que chama-lo de reacionário).

Afirmo tudo isso da mesma forma que afirmo que a esquerda revolucionário é execrável porque não faz uma política honesta. É um movimento hipócrita.

Quanto a Revolução Francesa, pelo seu texto, creio que a maior contribuição da mesma foi ter tirado o poder soberano do rei e abrandado o mesmo. Mesmo que o poder tivesse ido para a aristocracia, a meu ver, é preferível ao poder de um tirano. Ainda hoje é assim, um dia não será... Mas os tempos serão outros.

Rodrigo disse...

D, que dicionário pls?

D disse...

O Houaiss do Uol

Rodrigo disse...

D, quando me chamou de reacionário respondi de pronto: “não diria reacionário (pela própria indefinição do termo).” Sim, o termo é bastante complicado. Iniciei ontem um estudo sobre ele (que já conta com modestas 5 páginas) e pretendo publicá-lo em breve. Então poderemos aprofundar a discussão. Porém, recomendo desde logo que fuja do Houaiss para definição de termos políticos. Esse é um dos piores dicionários para esse fim. Vá lá e veja a definição que ele dá para capitalismo, para socialismo, para direita, para esquerda. É quase tão ruim quanto essa de reacionário que você pegou lá. O cara era de esquerda, filiadíssimo, inclusive. Tido pelo PSB como “modelo de intelectual de esquerda” (http://www.psbnacional.org.br/index.php/content/view/3107.html). Veja, também, o seguinte estudo sobre nossos principais dicionários (Aurélio e Houaiss): http://christianrocha.wordpress.com/2006/05/05/dicionarios/ Sem condições de definir reacionário a partir de dicionários desse tipo. E, partindo do histórico dos seus posicionamentos sempre questionadores, estou certo de que você não quis dizer “estabelecido o que cada palavra quer dizer” para um termo com semântica tão instável como reacionário.

Henrique Rossi disse...

A escolha da coruja foi ótima! :)