quinta-feira, 30 de abril de 2009

ABORTO - REFLEXÕES MAIS MADURAS SOBRE O CASO DE ALAGOINHA


Em atenção aos comentários deixados em meu artigo ABORTO - O mundo está ficando muito louco mesmo!, destaco que à época optei por tratar nele apenas das duas crianças abortadas, pois minha meta era acrescentar aos demais pontos que estavam então em debate um que considerava e continuo considerando essencial (embora tenha ficado esquecido) para (1) a leitura do episódio e (2) a participação na escolha de qual seria a saída mais apropriada para ele - participação essa que foi, sem falsos trocadilhos, abortada no aborto. Entendo que (i) o agravamento peculiar do dano (estupro) sofrido pela criança de 9 anos que se deu com a gravidez, (ii) a realização do aborto e (iii) a declaração da excomunhão são pontos que não existiriam sem a prévia existência dessas duas crianças com vida no útero da menina, motivo pelo qual, entendo que o debate não poderia as deixar de lado. Entendo, também, que em nenhum momento a questão foi abordada sob a verdade de que, embora os envolvidos estivessem pagando pelo crime do execrável, seriam as crianças que, com a vida, seriam punidas. E, não entendendo como esse ponto foi subtraído do debate e substituído pela raivosa acusação de atraso da Igreja em suas “posições dogmáticas”, resolvi lançar o argumento.

Faço minhas as palavras do Padre Paulo Ricardo: “Está todo mundo morrendo de dó dos enfermeiros que foram cúmplices do crime de aborto porque a Igreja Católica, num ato de crueldade terrível, excomungou os pobrezinhos.” (http://www.padrepauloricardo.org/) Quando, na verdade, foi a Igreja a única nesse episódio que considerou que, além da criança de nove anos, existiam, também, as duas crianças ainda em gestação, gestação essa que só poderia ser interrompida se houvesse laudo médico demonstrando (vamos nos lembrar que estamos diante de uma ciência que precisa fundamentar seus prognósticos) o risco de vida da menina e não apenas alguns médicos dizendo isso (vamos nos lembrar de que a retórica não é instrumento utilizado pela ciência).

Ciência não é fundamentada em bom senso ! E se o bom senso nos sugere a conclusão de que nesse episódio as três crianças morreriam, a ciência mostra em diversos outros que a gestação nessa condição extrema pode sim ser viável (27.610 casos na faixa 10-14 anos no Brasil em 2006, 260 de gravidez dupla, para ser mais exato - http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sinasc/cnv/nvuf.def).

PS.: para mais informações sobre o caso (e não da historinha que foi inventada e disseminada), acesse: http://www.estadao.com.br/vidae/not_vid336023,0.htm; para informações sobre outros casos de gravidez de menina de 9 anos (estes sem aborto), acesse: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u123617.shtml; http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2006/12/02/ult34u169397.jhtm; http://www2.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20020911/vid_mat_110902_36.htm

terça-feira, 28 de abril de 2009

CONHECIMENTO E CONSERVADORISMO


A importância do movimento conservador para a evolução de nosso conhecimento é muito bem representada pelos seguintes trechos:

"Você está numa situação histórica definida por uma série de patamares já conquistados. Esses patamares criaram a situação. Você está em cima disso e quer fazer de conta que é o primeiro, quando não é. Até a sua linguagem já está determinada por toda essa evolução; aquelas contribuições todas estão de certo modo embutidas ali. Se você acha que pode fazer o conhecimento avançar partindo da negação de que alguém tenha descoberto alguma coisa antes de você [doutrinas revolucionárias, por exemplo], não vai chegar a nada. Isso quer dizer que, quanto mais existe cultura acumulada, menos você tem o direito de ignorá-la. Por que? Porque a sua situação existencial já está definida ... Não só os seus conhecimentos são definidos por essa acumulação, mas também a sua própria situação existencial. Desde pequeno você recebeu uma educação, vive dentro de um quadro jurídico, social, político, moral, etc. já definido por toda essa acumulação. Você depende dela em tudo o que faz, é um filho da civilização. Então, se quer brincar de Adão no paraíso, para começo de conversa você está mentindo." p. 45

"Quando o sujeito começa a falar em nome da humanidade como se fosse o porta-voz da consciência humana universal, ele está no mundo da lua ! Você só passa cognitivamente para uma época se de fato absorveu o que foi dado até lá. E nunca se passa "coletivamente" [como queriam Engels, Marx, Lenin, Trotski, Stalin, Mao, Hitler, Mussolini, Darwin, Aiatolá Khomeini, ... em oposição ao que ensinava Cristo, que não falava em nome da humanidade - pelo contrário, foi morto por ela - e que dizia que a salvação é individual; Sócrates, Buda, São Tomás de Aquino, Santos, ...], nunca, porque coletivamente cada sujeito que nasce, nasce na Idade da Pedra. Você não é muito diferente do homem da Idade da Pedra, então vai ter que percorrer de novo todas aquelas etapas. Cada um tem que percorrer trabalhosamente por si para poder chegar ao seu próprio século!" p. 49

"O filósofo grego rompia com a religião dominante; aquela religião constituía-se apenas de mitologia e cultos, não tinha uma teologia, não tinha um legado de experiências místicas já sistematizado, arrumado, não tinha nada disso. Agora, no cristianismo sim. Nesse ínterim, as pessoas que passaram por isso, os teólogos, os místicos, etc., descobriram muita coisa. Se você, porque não quer ficar na religião, ignora tudo isso, está cometendo o pecado mortal de 'adamismo', está achando que é o primeirão quando na verdade não é. E provavelmente vai cometer erros que já foram cometidos e corrigidos há mil anos. Você volta para trás. É isso que Shelling quis dizer com 'caiu para um nível pueril'." p. 45

"Aquelas técnicas dialéticas todas criadas depois, ao longo de um milênio de Escolástica, elas todas existem, existem e funcionam. Você não pode fazer de conta que nada disso aconteceu e, em pleno ano 2000, montar uma discussão baseada em erros de lógica que em 1200 os caras já tinham desmontado. Isso é um barbarismo - se bem que as pessoas fazem esse barbarismo, e muitas são pagas para fazê-lo, recebem, fazem uma carreira e ganham prêmio Nobel fazendo-o." p. 47

Um exemplo de patamar adquirido mencionado é o seguinte:

"O dinheiro, a riqueza, é um poder somente em certas situações determinadas, em que a base do poder destrutivo já está hierarquizada. Quando quebra essa base, o dinheiro não é mais poder algum. Isso Sun Tzu já sabia e os caras não sabem até hoje: o pessoal da ONU não sabe, tem muito estrategista pago pelo governo americano para dizer bobagem que não sabe disso ... {Aluno: Lenin sabia disso, não é?} Nossa! Lenin sabia, sabia! Quem é que não sabe que, entre o rico desarmado e o pobre armado, quem manda é o pobre? [este pode ser considerado um dos motivos pelo qual o rico se arma pelo Estado e pela Segurança Privada] Isto é um desses patamares, como o ápeiron: depois que o homem enunciou (...) não tem jeito de você voltar atrás. Isso é um princípio. Esse negócio das castas e dos poderes que eu tenho explicado, tudo isso é terreno conquistado; você tem o direito de querer descobrir mais alguma coisa, o que não pode é ignorar isso e, se fazendo de superior, cair para um nível muito anterior." p. 49/50

CARVALHO, Olavo de in Pré-socráticos - coleção história essencial da filosofia, Aula 5, 1a edição, São Paulo, É Realizações Editora, 2006

Felizmente uma parte do conhecimento humano encontra-se hoje protegido pela ciência probabilística – essa que existe hoje – conhecimento científico, que ao exigir fundamentação daquele que pretende substituir/superar um conhecimento já adquirido, protege esse conhecimento contra o "adamismo".

A outra parte (nem todo o conhecimento está sujeito à ciência empírica, como, por exemplo, a ciência política, a jurídica, ...), porém, criada em séculos de aplicação da dialética e da lógica aristotélicas (ciência no formato aristotélico), ausente muitas vezes da probabilística supervalorizada no Iluminismo, só encontra defesa em mentes conservadoras, para as quais o que vale é a Veracidade e não a Atualidade de uma nova idéia.

E é dessa forma, partindo do conhecimento que já foi criado, disponibilizado no passado, que podemos (A) reconhecer que:

(1) na CIÊNCIA POLÍTICA, o conceito de propriedade, por exemplo, que antes significava posse, liberdade e vida (LOCKE, John in Segundo tratado sobre o governo, 1ª edição, São Paulo, Editora Martin Claret, 2002, ps. 69 e 123, sim um iluminista), passou a significar apenas posse ou, em alguns casos, a injusta apropriação daquilo que deve pertencer a todos (comunismo), retrocesso até hoje rebatido, como no caso do conservador Kirk Russel, para quem a forte conexão entre propriedade e liberdade era um princípio de sua doutrina conservadora;

(2) na CIÊNCIA JURÍDICA, o conceito de propriedade passou a incluir um novo elemento (ainda que acessório) denominado “função social” antes inexistente, conforme artigo 5º, inciso XXIII da Constituição Federal de 1988, elemento por meio do qual podemos constantemente reclassificar as propriedades em classes conforme for o entendimento de “função social” de uma dada época, de um dado governo – propriedade de primeira classe - a que tem função social e é protegida especialmente pelo caput do artigo 5º da Constituição – e propriedade de segunda classe - a que não tem função social e, consequentemente, não recebe a mesma proteção, podendo ser invadida por integrantes de movimento social que em determinada época é tido como representante do que se entender por função social (como é o caso do MST atualmente)

só para citar alguns exemplos, e, após reconhecer isso, (B) apontar com mais “propriedade” uma melhor trilha a ser seguida, evitando erros que por vezes já foram cometidos e corrigidos há mais de 1000 anos.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

FERIADO DE TIRADENTES


Em homenagem ao Feriado de Tiradentes, símbolo, ainda que controvertido, de resistência à tributação excessiva, trago ao conhecimento de vocês o novo Tea Party (Festa do Chá), movimento de resistência a tributação do Estado Democrata que ocorreu na semana passada, em diversas cidades dos EUA. Vejam os seguintes links:





Espero que a maioria dos brasileiros, que nesse momento devem estar viajando, se divertindo, descansando, comendo, bebendo, dançando, possamos parar um minuto ao menos para pensar se também nós não precisamos fazer um Tea Party por aqui.









domingo, 19 de abril de 2009

REVOLUCAO BOLIVARIANA


Já fomos alertados há algum tempo desse movimento que ocorre na Venezuela (e em vários outros lugares – e que também já ocorreu antes em outros lugares) pela Igreja:

“De outro modo, está bem claro, as ideologias mais revolucionárias não têm como resultado senão uma mudança de patrões; instalados por sua vez no poder, estes novos patrões rodeiam-se de privilégios, limitam as liberdades e instauram novas formas de injustiça.” (Octogésima Adveniens, 45 - http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/apost_letters/documents/hf_p-vi_apl_19710514_octogesima-adveniens_po.html)

"Não é na revolução que reside a salvação e a justiça, mas sim na evolução bem orientada. A violência só e sempre destrói, nada constrói; só excita paixões, nunca as aplaca; só acumula ódio e ruínas e não a fraternidade e a reconciliação. A revolução sempre precipitou homens e partidos na dura necessidade de terem que reconstruir lentamente, após dolorosos transes, por sobre os escombros da discórdia". (Discurso aos Operários na festa de Pentecostes de 1943 - http://www.vatican.va/holy_father/john_xxiii/encyclicals/documents/hf_j-xxiii_enc_11041963_pacem_po.html)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

ALEXANDER HAMILTON SOBRE A CORAGEM PARA ASSUMIR O CAMINHO CERTO AINDA


Alexander Hamilton uma vez disse que "uma nação que prefere o infortúnio ao perigo está pronta para um senhor, e merece um". Tomo a liberdade de efetuar uma alteração no texto para que possamos aplicar essa mesma idéia também às pessoas, em especial àquelas que deixam de assumir e defender publicamente o que pensam com medo da reação popular que na quase totalidade das vezes é desinformada e sem fundamento algum:


"Uma [pessoa] que prefere o infortúnio ao perigo está pronta para um senhor, e merece um."
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PS.: Sem deixar de fazer a necessária reserva para o fato de que foi Hamilton que lá no inicio defendeu o fortalecimento da União, em artigo denominado "A União como barreira contra facções e insurreição" (O Federalista), que se inicia assim:

"Uma União sólida será da máxima importância à paz e à liberdade dos Estados, como uma barreira contra facções e insurreições internas."

Aliás, a afirmação de Hamilton lançada acima faz do que hoje ocorre nos EUA uma grande ironia. Hamilton, àquela época, defendeu que a União assumisse as dívidas dos Estados decorrentes da guerra empreendida para a Independência a fim de, junto a outras propostas políticas, aumentar o poder da União em relação aos Estados. Essa proposta alinhou pessoas no grupo que posteriormente foi chamado de Federalista. Em oposição a esse grupo, encontrava-se Thomas Jefferson e James Madison que, em conjunto outras pessoas que se opunham ao fortalecimento da União, formaram o grupo posteriormente chamado de Republicano, grupo esse que deu origem ao Partido Democrata, que hoje, ironicamente, tem política pró Hamilton e contra seus próprios líderes fundadores, cuja defesa cabe atualmente ao Partido Republicano.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

FILMES QUE RECOMENDO


THE SOVIET STORY

Excelente documentário sobre a relação que existiu entre ex-URSS e o Terceiro Reich, que foi muito além do Pacto Nazi-Soviético ao qual historiadores e estudiosos dedicam capítulos exclusivos de suas obras (quando não ela inteira), como o fez Henry Kissinger, que em seu livro Diplomacia, 3ª edição, 2001, Univer Cidade Editora, tratou do tema no capítulo 13, que já na sua 12ª linha assim se manifesta:

“Por um tempo, seu [de Hitler e Stalin] interesse comum em acabar com a Polônia suplantou as diferenças ideológicas.”

O que me leva à segunda recomendação:


KATYN

Filme excelente (diferente da maioria dos filmes “intelectuais” europeus), embora seja chocante, revoltante, triste, muito triste (aqui estamos falando de prantos e não apenas lágrimas), dirigido pelo vencedor do Oscar Honorário Andrzej Wajda, que se baseou no livro de Andrzej Mularczyk – post mortem: A História de Katyn.

O filme trata (muito tardiamente, mas finalmente) do Massacre de Katyn, que consistiu no assassinato de oficiais do exército polonês e de civis (mulheres e filhos desses oficiais, em especial) pelos soviéticos em 1940 na floresta de Katyn, onde todos foram enterrados em valas comuns, crime reportado durante o período de influência Russa como sendo Nazista (que, também cometeu crimes abordados no filme), para a repulsa dos poloneses que sabiam da verdade.

Para aqueles que simpatizam com propostas socialistas e/ou nazistas (sei que ainda existem esses dois grupos de pessoas do mesmo tipo), recomendo ambos os filmes para que possam adquirir vergonha na cara e a coragem para reclusão intelectual por meio da qual estudarão filosofia (em especial dialética e lógica aristotélicas), história, arqueologia e religião (sob o aspecto histórico, que seja) para depois voltarem ao mundo com um mínimo de aptidão para apreenderem a realidade que circunda a todos nós, que clama nas ruas, que eleva sua voz na praça, que grita nas esquinas da encruzilhada para que paremos de zombar dela.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

* * * * PÁSCOA * * * *


Alguns pensadores contemporâneos têm recebido cada vez mais aplausos por aí por afirmarem ser muita pretensão do homem dizer que um Deus, por ele mesmo descrito como sendo supremo, onipotente, onisciente, onipresente, completo e perfeito, o ama, justamente ele que é também por ele mesmo descrito como sendo um ser incompleto, limitado, falho e pecador. Perguntam-nos esses senhores como podemos falar de um Deus criador de todo esse Universo, obra de beleza e complexidade quase infinitas, perfeito e completo amando o homem, que nós mesmos descrevemos como uma criatura pecadora?

Para esses pensadores, nossa linha de pensamento, além de não poder ser provada (ponto já superado no artigo VOCÊ ACREDITA EM PAPAI NOEL? E EM DEUS?), não faz sequer sentido. Mais do que isso, segundo esses senhores, nossa crença revela o tamanho de nossa limitação intelectual, que deixa de ver a “verdadeira insignificância do homem perante o todo” e o faz ficar inerte a toda “sua responsabilidade existencial”. E, por fim, concluem zombando: como poderia um ser tão supremo como vocês descrevem ser Deus amar um ser tão mesquinho, insignificante e pecador como o homem !?

Esquecem-se esses senhores que os gregos, há milênios, já nos ensinaram a enxergar melhor o que seria o AMOR, tendo esse ensinamento sido coroado pelos ensinamentos de Cristo do que seria essa virtude, para muitos a VIRTUDE MÃE, que permite, por si, a presença de todas as outras virtudes: a polidez, a fidelidade, a prudência, a temperança, a coragem, a justiça, a generosidade, a compaixão, a misericórdia, a gratidão, a humildade, a simplicidade, a tolerância, a pureza, a doçura, a boa-fé e até o humor.

Nesses ensinamentos, que vêm de Hesíodo, Parmenedes, Heráclito, passam pelo Mito de Aristófanes e pelo Banquete de Platão e culminam no Sermão da Montanha de Cristo e na Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios, o amor passa a ser visto sob três principais facetas:

EROS – é aquele amor que nasce da falta, falta de algo que não temos e que encontramos no outro, que segundo o Mito de Aristófanes, é nossa metade separada por Zeus (nossa alma gêmea); é o amor-interesse em algo que nos falta.

PHILIA – é aquele amor que nasce da amizade que adquirimos a algo que nos é agradável, como é o amor (philia) a sabedoria (sophia), por ser esta agradável – philia sophia, filosofia; é o amor-interesse em algo que nos agrada.

ÁGAPE – é aquele amor que difere do amor interessado ora em algo que lhe falta (EROS), ora em algo que lhe agrada (PHILIA); é aquele único amor que permite o impossível tanto para Eros como para a Philia, que é amar o seu inimigo, o que só é possível para um amor desinteressado –

“Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, (...) Se amais os que vos amam, que recompensa mereceis? Também os pecadores amam aqueles que os amam [PHILIA]. (...) Pelo contrário, amai os vossos inimigos, fazei bem e emprestai, sem daí esperar nada [ÁGAPE]. E grande será a vossa recompensa e serei filhos do Altíssimo, porque ele é bom para com os ingratos e maus.” Lc 6, 27-35;

é aquele amor que se chama caridade (e Ágape é a palavra grega para caridade, que hoje tem um sentido reduzido) pois esse amor é todo doação, como tão bem descreve São Paulo ao sobre ÁGAPE dizer que:

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade [ÁGAPE], sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria! A caridade é [e vejam aqui todas as virtudes citadas acima aparecendo dentro da virtude mãe, que é o amor, fonte das demais] paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A CARIDADE JAMAIS ACABARÁ [gn]. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança. Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém, A MAIOR DELAS É A CARIDADE.” [fé e esperança deixarão de ser, a caridade jamais acabará].

essa é a Ágape.

Pressupor que Deus ama o homem porque o homem é objeto de amor, porque o homem é amável, porque desperta o interesse de Deus que, a partir disso o ama como se estivesse Ele interessado em algo que lhe agrada [PHILIA] realmente não é o que parece ocorrer e nisso concordo com esse povo todo aí. Agora, dizer que nossa crença é intelectualmente limitada é prova da própria limitação intelectual, pois deixa de entender que para o cristão, o amor de Deus é o amor ÁGAPE. Não o PHILIA. É assim que Deus, como disse Jesus, “é bom para com os ingratos e maus”. Deus nos ama não pelo que somos, mas porque Ele é todo amor [ÁGAPE]. E somos amados por Deus não por presunção nossa, mas pela grandeza Dele.

Até um ateu, André Comte-Sponville, parece ter entendido isso, deixando isso registrado de maneira interessante em seu livro Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, na 1ª edição da Editora Martins Fontes, de 2002, na página 299:

“O amor que Deus tem por nós, segundo o cristianismo, é ao contrário perfeitamente desinteressado, perfeitamente gratuito e livre: Deus nada tem a ganhar com ele, já que nada lhe falta, nem existe mais por causa dele, já que é infinito e perfeito, mas ao contrário se sacrifica por nós, se limita por nós, se crucifica por nós e sem outra razão a não ser um amor sem razão, sem outra razão a não ser ele mesmo renunciando a ser tudo. De fato, Deus não nos ama em função do que somos, que justificaria esse amor, porque seríamos amáveis, bons, juntos (Deus também ama os pecadores, foi inclusive por eles que deu seu filho), mas porque Ele é amor e o amor, em todo caso esse amor, não necessita de justificação. ‘O amor de Deus é absolutamente espontâneo’, escreve Nygren. ‘Ele não procura no homem um motivo. Dizer que Deus ama o homem não é enunciar um julgamento sobre o homem, mas sobre Deus’. Não é o homem que é amável; é Deus que é amor. Esse amor é absolutamente primeiro, absolutamente ativo (e não reativo), absolutamente livre: não é determinado pelo valor do que ele ama, que lhe faltaria (eros) ou o alegraria (philia), mas, ao contrário, ele determina esse valor amando. Ele é a fonte de todo valor, de toda falta, de toda alegria.”

E complementa que, segundo Nygren:

“A agapé é um amor criador. (...) A ágape não constata valores, cria-os. Ela ama e, com isso, confere valor.”

E é daqui que tiramos, sem presunção alguma, nossa grandeza. Não somos amados por Deus porque somos grandes. Somos grandes porque somos amados por Deus, que é grande em amor. E é esse amor que proponho que nos lembremos nestes feriados da Paixão (entrega de Si e de seu filho por amor ao homem) e da Ressurreição do amor que “jamais acabará”. Feliz Páscoa !

O PAPA E A CAMISINHA

Interessante: o povo está tão mal informado (e, por tabela, distante da verdade) que consegue ser superado pelo Papa mesmo quando o assunto é camisinha. Irônico, não!? Segundo o Papa, a distribuição de camisinha na África não resolve o problema da AIDS no continente. E pior, segundo ele, o agrava.

Não preciso dizer que uma massa de pessoas preguiçosas (porque raramente vão se informar e buscar os fatos antes de saírem publicando qualquer baboseira) e presunçosas (porque adoram emitir opiniões e obterem aquele aceno de cabeça e cara de conteúdo de outro presunçoso de plantão, de preferência sem ter feito esforço algum) novamente saiu vociferando contra a posição do Papa sem se atentarem, ironicamente, como disse acima, para o fato de que: (1) existem cientistas estudando a AIDS na África, (2) alguns deles já emitiram conclusões técnicas a respeito dela (Edward Green, Norman Hurst, Hearst and Chen, por exemplo), conclusões atualizadíssimas, por sinal, (3) existem pesquisas por meio das quais já se constatou que a distribuição de camisinha não soluciona o problema da AIDS na África e que, na verdade, a distribuição só o tem aumentado, (4) uma dessas pesquisas, a principal delas, não foi realizada por qualquer “espertalhão” de plantão, mas por um especialista em AIDS da Harvard, que já estuda o problema há 30 anos, e (5) existe Uganda, com uma redução de 70% de seus casos, para provar tudo isso.

Alguns artigos já foram publicados a respeito, motivo pelo qual o acesso à informação não está tão difícil assim (é preguiça mesmo dos presunçosos, que acham que não precisam pesquisar nada para sair falando qualquer coisa).

Vejam alguns desses artigos:

The Washington Post - http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2009/03/27/AR2009032702825.html - editorial escrito pelo próprio especialista de Harvard, Eduard Green, liberal (que no EUA é equiparável à esquerda – se já não estiver chegando lá), e que já estuda a AIDS (em especial na África) há 30 anos (é, o pessoal está por fora mesmo)

BBC - http://www.bbc.co.uk/blogs/ni/2009/03/aids_expert_who_defended_the_p.html - nem a BBC, reconhecida por sua campanha contrária ao pontificado de Bento XVI, pôde negar os dados

National Review - http://article.nationalreview.com/?q=MTNlNDc1MmMwNDM0OTEzMjQ4NDc0ZGUyOWYxNmEzN2E