quinta-feira, 16 de julho de 2009

SOBRE O SUPOSTO CONFORTO DA VIDA PÓS-MORTE


Muita gente acredita que Deus e religião foram criações humanas que tiveram (e teriam) o objetivo de confortar o homem diante da morte:

“Se a demanda é por conforto diante da morte, então talvez a ciência não possa satisfazê-la.” Richard Dawkins (http://www.genismo.com/religiaotexto33.htm)

“O fato de as pessoas encontrarem alívio e conforto na religião não significa que ela seja verdadeira” – Richard Dawkins (http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/07/02/materia.2009-07-02.9767254921/view)

“Alguns de seus representantes [ateus], incapazes de lidar com a finitude e a falta de promessas místicas de felicidade e amor, acabam relegando sua própria educação ateísta em prol de uma crença que lhes traga mais conforto e sobriedade diante das imposições da vida.” (http://umateudemauhumor.blogspot.com/2009/03/qual-o-sentido-da-vida.html)

“Na minha opinião, esses supostos ex-ateus se desconverteram por duas possíveis razões: (...) eles apenas abdicaram da razão em nome do conforto psicológico.” (http://fernandosilva.multiply.com/journal/item/39)

“Se acreditamos em algum Deus é porque sentimos essa necessidade. É reconfortante diante da idéia da morte inevitável. Os ateus não precisam deste conforto.” (http://www.ronaud.com/bom-senso/minhas-percepcoes-sobre-inteligencia-compreensao-e-descrencas/)

Ao olhar desatento, tais (e tantos outros) argumentos fazem sentido: “vou morrer e depois, bem, depois vem Deus para me ajudar. E isso é reconfortante.” Porém, é importante considerar que:

(1) “o depois” só existe para quem acredita em Deus – ou será que existe algum ateu que acredita em vida pós-morte?

(2) só precisa de conforto quem acredita no “depois”, ou seja, o o crente, ainda que crente de um “Deus particular”

(3) do que concluímos que o ateu: (i) sob a ótica da morte, tem o conforto de não se preocupar com o que vem depois já que não há depois e (ii) sob a ótica da vida, leva “vantagem” novamente ao ter o conforto de poder fazer o que bem entender na vida sem ter que prestar contas à eternidade.

(4) do que também concluímos, em contrapartida, que aqueles que acreditam em Deus e, portanto, na vida pós-morte, muito ao contrário do que pensam e dizem os ateus, estão longe desse tal "conforto" e paradoxalmente tão mais próximos de serem confortados (consolados).

Não fosse essa uma verdade, como teria sido possível escrever:

To be, or not to be: that is the question:
Ser ou não ser, eis a questão:

Whether 'tis nobler in the mind to suffer
Seria mais nobre em espírito sofrer

The slings and arrows of outrageous fortune,
As pedradas e flechadas da enfurecida fortuna,

Or to take arms against a sea of troubles,
Ou levantar nossos braços contra um mar de problemas

And by opposing end them? To die: to sleep;
E pela oposição, vencê-los? Morrer, dormir;

No more; and by a sleep to say we end
Nada mais; e pelo sono dizer que acabamos

The heart-ache and the thousand natural shocks
Com a angústia do coração e os milhares de choques naturais

That flesh is heir to, 'tis a consummation
Heranças da carne, é uma consumação

Devoutly to be wish'd. To die, to sleep;
A ser desejada com fervor. Morrer, dormir;

To sleep: perchance to dream: AY, THERE'S THE RUB;
Dormir ... talvez sonhar: AH, AÍ SURGE O PROBLEMA;

For in that sleep of death what dreams may come
Pois no repouso da morte, que sonhos virão?

When we have shuffled off this mortal coil,
quando livres do tumulto da existência,

Must give us pause: there's the respect
Teremos paz? Eis o ponto

That makes calamity of so long life;
Que faz calamidade dessa vida tão longa.

For who would bear the whips and scorns of time,
Afinal, quem sofreria os açoites e o desprezo do tempo,

The oppressor's wrong, the proud man's contumely,
O agravo do opressor, a afronta do orgulhoso,

The pangs of despised love, the law's delay,
Os tormentos do amor menosprezado, as demoras da lei,

The insolence of office and the spurns
A insolência oficial e as recusas com desdém

That patient merit of the unworthy takes,
O mérito paciente, quem o sofreria,

When he himself might his quietus make
Quando alcançasse a mais perfeita morte

With a bare bodkin? who would fardels bear,
Na ponta de um punhal? Quem carregaria os fardos,

To grunt and sweat under a weary life,
Gemendo e suando sob a vida fatigante?

But that the dread of something after death,
Mas o pavor de alguma coisa após a morte,

The UNDISCOVER'D COUNTRY from whose bourn
O PAÍS DESCONHECIDO de onde o viajante lá nascido

No traveller returns, puzzles the will
Jamais retorna, confunde o desejo

And makes us rather bear those ills we have
E nos faz escolher carregar os males que temos

Than fly to others that we know not of
Do que voar para outros que não conhecemos

Thus conscience does make cowards of us all;
Assim a consciência nos transforma todos em covardes

And thus the native hue of resolution
E assim a tez normal da determinação

Is sicklied o'er with the pale cast of thought,
É adoentada por um pálido lance de pensamento;

And enterprises of great pitch and moment
E empreitadas de ousado escopo e impulso,

With this regard their currents turn awry,
Nessas considerações, desviam-se do rumo

And lose the name of action.
e deixam de se chamar ação.

Shakespeare – Hamlet

Um comentário:

Henrique Rossi disse...

Ah esses ateus...

O supervisor do meu antigo trabalho em SP era ateu de carteirinha. Não sabia como eles podem ser agressivos e ressentidos em relação à religião. Essa gente não aceita diferenças não?

Pois é...

Eles não aceitam! Se mais uma vez eles voltassem a mandar no mundo mais uma vez teríamos pilhas de cadáveres...