segunda-feira, 13 de julho de 2009

SUCK, DIGO SICKO, DO MICHAEL MOORE NO MORE

Assisti ao filme Sicko, do Michael Moore No More, no qual ele filma algumas pessoas chorando (só para variar um pouco ...), usa aquela velha musiquinha do filme Platoon (http://www.youtube.com/watch?v=Ue8VS-bcj88) que ele adora para comover as pessoas, menciona alguns pontos importantíssimos sobre algumas falhas do sistema de Saúde nos EUA sem analisá-los (legalidade/ilegalidade nas negações de cobertura, crime de “despejo de enfermos”, custo do sistema que é obviamente repassado aos consumidores do sistema, dentre outros) e conclui pela defesa de um Estado que faça tudo por você (para que, obviamente, você possa se tornar um ocioso criativo – ou, como costumamos chamar por aqui, um vagabundo), inclusive lavar sua roupa suja.
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Os argumentos são velhíssimos:


ARGUMENTO 1. “Liberdade não pode ser atingida sem bens materiais” – embora concordemos que propriedade e liberdade estão ligadas, a conclusão de que a liberdade só é liberdade se absoluta, o que, dentro desse matriz, exigiria o acesso absoluto aos bens materiais, contrariando, portanto, a estrutura capitalista (que permite a propriedade privada), é uma balela, já que o acesso absoluto aos bens materiais é impossível, não servindo, portanto, o fato de uns terem menos bens (e liberdade) que outros como fundamento para criticar um sistema que supostamente permite essa diferença já que nesse reino da física em que vivemos (sim, o do E=mc2), esse objetivo é inatingível.

ARGUMENTO 2. “Atendimento Médico Gratuito de Urgência na França é demais!” – como se 911 não existisse nos EUA – conheço o serviço pois: (1) já fui atendido por ele lá nos EUA em 1995 e (2) o pai da minha amiga Sarah trabalha GRATUITAMENTE como paramédico para esse serviço (usando o próprio carro dele, com aquela sirene que você coloca do lado de fora)



ARGUMENTO 3. “O sistema de saúde Inglês é melhor do que o dos EUA” – Embora seja de conhecimento geral que o sistema, depois de 61 anos de sua implantação, foi um grande erro da Inglaterra, como bem esclareceu Daniel Hannan, membro do Parlamento Europeu, ao dizer aos congressistas dos EUA: “por favor, não cometam esse erro (sistema único de saúde), é pior para os médicos, é pior para os pacientes e é pior para o contribuinte.” ... mas o sistema de saúde Inglês dá dinheiro para os doentes ...


ARGUMENTO 4. “O sistema de saúde Francês é melhor do que o dos EUA”, como se lá o sistema não estivesse enfrentando o risco da falência (http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(04)15477-9/fulltext)



ARGUMENTO 5. “O sistema de saúde de Cuba é melhor que o dos EUA” – pois a bombinha de respiração custa 5 centavos de dólar lá e 120 dólares no EUA, como se as bombinhas fossem as mesmas, como se essa bombinha cubana não fosse subsidiada por um governo que além de não ter condições para subsidiar uma série de medicamentos que não existem em Cuba, não tem sequer condições de fornecer alimento sem limitar seu consumo. O que você prefere, comprar uma bombinha de respiração por 5 centavos ou poder ter um belo jantar por um baixo custo?

A propósito, esquecemos de mencionar que o próprio No More mostra em seu filme que Cuba ainda consegue “ser pior” que os EUA na lista da ONU dos melhores e piores sistemas de saúde.


ARGUMENTO 6. “Os EUA “socializaram” uma série de coisas”, dentre as quais No More cita:

(i) o Corpo de Bombeiros, esquecendo-se que boa parte do serviço é prestado por voluntários, como minha amiga Sarah (foto abaixo), que recebeu treinamento para prestar gratuitamente o serviço;


(ii) a Educação: (a) como se as grandes mentes não fossem formadas pelas Universidades mais caras do mundo (http://en.wikipedia.org/wiki/Ivy_League) ou (b) como se uma escola particular Católica, por exemplo, não custasse menos por aluno do que uma pública (além de ser BEM MELHOR do que uma pública*)

(iii) os Correios – que cobra para envio de cartas e não menos do que no Brasil (gostaria de postar aqui o tanto de selos que tenho com o custo que tive para enviar correspondências para o Brasil entre 1994 e 1995)

Moore No More, por que voce não citou também: as emissoras de Televisão, as Empresas de Energia Elétrica, o sinal de celulares, o GPS, o McDonald’s, o Wal-Mart, os Shopping Centers, ... Tudo isso foi socializado e alguns deles você nem precisa pagar, como o sinal de GPS, o sinal da TV aberta, os Shopping Centers, ...

ARGUMENTO 8. “O Estado deve criar oportunidades para você receber o máximo de dinheiro possível com o mínimo de esforço viável” – essa e a típica regra do vagabundo que No More defende claramente (eu diria, irritantemente, inclusive) em seu filme. Vem abaixo cenas e respectivas frases lançadas no filme de Michael Moore No More:


Diálogo entre o “doente” do Michael Moore No More e um médico francês: “Ao fim de três meses, fui ao médico e ele me perguntou: ‘Você quer voltar ao emprego?’ Eu disse: ‘Não, não em parece que eu esteja em condições. Neste momento não estou pronto.’ [!?!?!] ‘De quanto tempo precisa?’ [perguntou o médico] ‘Bem, não sei.’ ‘Três meses está bom?’ [!?!?!] ‘Sim, acho que três meses está ótimo.’ ‘Então tire três meses.’ E escreveu uma nota, que dei ao meu empregador para assegurar que eu seria pago. [ah, haaaa]” E o que esse “bum” ou devo chama-lo de “doente” fez de tão importante que coloca o sistema de saúde francês no topo do céu do No More? Foi para as praias do sul da França, com três meses de salário garantido, como No More faz questão de enfatizar como grande virtude do sistema francês de saúde. Veja as fotos abaixo:


Esse bem-bom com dinheiro alheio não é de se estranhar, afinal, a França é, segundo No More, uma maravilha por também garantir aos seus cidadãos, como ele boquiaberto bem destaca: apenas 35 horas de trabalho semanais (porque, segundo ele, a produtividade francesa é maior do que a americana – yeah, right !?!), férias de 5 semanas (!!!, sim, 5 semanas), 7 dias para lua-de-mel (em acréscimo às 5 semanas de férias, como ficou bem destacado no filme), 1 dia livre para mudar de uma casa para outra e, não sei se acredito - mas Moore No More ficou bastante entusiasmado - o governo manda um agente para sua casa para lavar sua roupa suja, se necessário ... sem comentários, vou entrar naquela comunidade do Orkut “Eu tenho vergonha alheia” pelos franceses e pelo No More.




Michael (No More), saiba que a Europa não vive num mundo de “nós” como você diz no filme ao fazer oposição aos EUA, que supostamente viveria num mundo de “eu”. A Europa vive num mundo do “Cadê o meu?”.

“You only have to travel to Europe to see the diffrerence that na entitlement culture makes. While the United States is a vibrant, creative, and exciting place [não mais como antigamente], Europe today is largely stagnant. Workers there have little incentive to move ahead, because the rate of taxation is punishing and the governments guarantee a certain standard of living. In France, young people demonstrated for weeks because the government wanted a new law that would allow employers to actually fire them during the first two years of employment if they screwed up on a regular basis. But nooooo [esse nooooo é do próprio autor], we can’t have that! The French sense of entitlement basically says “You owe me prosperity, government. You owe me.” Where have we heard that before?” O’REILLY, Bill Culture warrior, 1a edição, New York, Broadway Books, 2007, p. 117

O filme conseguiu ser pior que Fahrenheit 911. Como diriam os americanos, ele é OUTRAGEOUS !

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*“In Washington D.C., according to the National Center for Education Statistics, public school spending on each pupil is now over $10,000 per child per year, an astounding amount and about double what it was thirty years ago. D.C. Catholic schools spend far les per pupil than the public schools do. And – you guessed it – test scores for the Catholic school kids are far higher then those for the Catholic school kids are far higher than those for the public school students. In fact, 98 percent of kids graduation from D.C. Catholic schools go on to college, while almost 40 percentage of D.C. public school students never graduate from high school; they drop out.” O’REILLY, Bill Culture warrior, 1a edição, New York, Broadway Books, 2007, p. 141

3 comentários:

Henrique Rossi disse...

Michael No More?!

Estou sentindo aí certo talento humorístico hein?! :)

Unknown disse...

Essa "velha musiquinha do filme Platoon (http://www.youtube.com/watch?v=Ue8VS-bcj88) que ele adora para comover as pessoas" é Agnus Dei, de Samuel Barber, que de musiquinha não tem nada! Veja: http://www.youtube.com/watch?v=HvT03pxhe58

Marcelo disse...

Muito bom, muito bom... bela desconstrução.